A minha primeira recordação
Há quase dez anos que a minha querida avó nos deixou. Mas guardo dela muitas e boas lembranças. A mais antiga é a de um dia frio de inverno, numa altura em que ela veio a Paris, tinha eu quatro anos. Para me entreter e desfrutar da minha presença, a minha avó propôs-me que descêssemos à cozinha para jogarmos às cartas. Ainda sinto a sua mão, macia e engelhada, a agarrar a minha, ajudando-me a descer as escadas, degrau por degrau. Lembro-me dos seus cabelos brancos apanhados num totó no cimo da cabeça, do seu rosto claro e cansado pelos anos, dos seus olhos brilhantes olhando para mim, do sorriso que lhe iluminava o rosto todo… Lembrar-me-ei deste rosto até ao meu último sopro.
Na cozinha, sentamo-nos à mesa. Lembro-me de ver as suas mãos a baralharem as cartas. Fazia-o com precisão e sabedoria. Deu as cartas e couberam-me três vermelhas e uma preta. Não sabia por que me tinha dado as cartas, nem o que fazer com elas. Não conhecia aquele jogo. Com a sua voz doce, explicou-me calmamente as regras. Era o jogo do peixinho. Gostei de imediato daquele jogo. A minha avó era a melhor professora e a mais terna das mulheres deste mundo.
Para mim, esta é a primeira recordação da minha existência e uma das mais belas que guardo desta senhora do meu coração. A relação entre diferentes gerações de uma mesma família sempre me fascinou. É surpreendente o que se pode aprender com os mais velhos !
Composição da aluna
Clara Carneiro 2e B